NÃO PODEMOS E NÃO VAMOS ESQUECER O 31 DE MARÇO DE 1964 (Continuação 29).
Por Aluísio Madruga de Moura e Souza
Não teríamos como concluir este trabalho histórico sobre a Contrarrevolução de 1964, sem tecer comentários mais detalhados sobre o que foi a “Guerrilha do Araguaia”, também conhecida como “Guerrilha de Xambioá” por ter se desenvolvido próxima aquela cidade do Estado de Goiás. Em verdade, as “Forças Guerrilheiras do Araguaia”(FOGUERA), como se intitulou o movimento revolucionário instalado pelo PCdoB no Sul do Pará e Norte do Tocantins – foi patrocinado pelo próprio partido, com pequeno apoio financeiro oriundo da Albânia. O comprometimento desse com a FOGUERA era de tal ordem que todos os dias às 21:00 hs, hora local do município de Xambioá/GO, um programa com 01(uma) hora de duração, em português, ia ao ar pela sondas curtas da rádio de Tirana. A programação era dirigida especificamente para a Guerrilha do Araguaia, além de transmitir os fatos mais recentes ocorridos na área, alguns em muito pouco espaço de tempo e sempre dando conotação heroica à atuação da guerrilha. Este é um fato inconteste e que prova de maneira cristalina a ligação da guerrilha com o Movimento Comunista Internacional(MCI), razão pela a mídia interessada no tema não toca no assunto
A FOGUERA era, em última análise, o embrião de um movimento guerrilheiro rural com o qual o PCdoB pretendia conduzir o Brasil para uma “guerra popular prolongada”, que mais tarde devera propagar-se para o restante do meio rural e, em seguida para as cidades.
Sob o pretexto de não dispor de uma estrutura administrativa que lhe permitisse punir desertores, castigar os não-colaboradores e manter em prisões os eventuais militares que os combatiam feitos prisioneiros ou feridos, a FOGUERA constituiu “Tribunais Revolucionários” para “ julgar – condenar e justiçar” os indesejáveis. A esse poder supremo são creditadas algumas mortes. Essa eliminação fria dos inimigos foi admitida tacitamente no relatório de Ângelo Arroio( Editora Anita Garibaldi/1966), quando um dos dirigentes do Movimento assinalou como um erro de certa importância “não ter justiçado determinados inimigos. É o caso do bate-pau(como chamavam os policiais militares) – Pernambuco; o Antônio e o irmão e, talvez os elementos que haviam chegado de fora, suspeitos de pertencerem ao Exército”. E realmente eram militares do EB.
Ao se realizar uma análise mais profunda, verifica-se que a FOGUERA não chegou a nenhum resultado prático, tendo em vista que o apoio externo esperado pelo PCdoB, principalmente da China, não ocorreu. Na atualidade alguns saudosistas da esquerda brasileira ignoram as críticas da maioria de militantes do próprio PCdoB e tentam dar ares de vitória ao malogrado movimento, rotulando seus componentes de “guerrilheiros” e exigindo que lhes tivesse sido dado o tratamento previsto na Convenção de Genebra. Esquecem que a violência revolucionária premeditada é ilegal e o movimento, além de clandestino , jamais contemplou a democracia como fim e nem mesmo como etapa política, pregando a luta armada para a chegada ao poder e, posteriormente, como fizeram em outros países, implantar um regime totalitário, inspirado em nações que banalizam e massificam os crimes de Estado, que a esquerda da boca para fora tanto condena.
Há que se levar em conta que grande parte das notícias e reportagens sobre a Guerrilha do Araguaia são preconceituosas e deturpadas por maus profissionais, renomados ou não, preocupados em ter o próprio nome associado às denúncias sobre o assunto e, portanto, sem nenhum compromisso com a verdade dos fatos. Alguns testemunhos chegam a ser pândegos, como o de um caboclo residente na região do Araguaia, que afirma ter visto um morador local, considerado pela sForças Legais como suspeito de estar dando apoio ao guerrilheiros, “ficar pendurado pelos testículos e que, ao final da tortura tinham meio metro de comprimento”. E o pior de tudo isto é que a mídia, sem nenhuma comprovação divulga baboseiras como essa, como se verdade fosse.(continua).
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