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Iluminadas por Deus, segundo a Bíblia, pessoas que pregam paz |
A VPR iniciou o ano de 1970 com uma linha política estabelecida no seu último congresso de novembro do ano anterior, logo após o "racha" - quando se desligou da VAR - Palmares..
Em janeiro, o Comando Nacional (CN) expediu o "Informe nº 3" no qual analisava a situação do Pais, da esquerda e da organização, e estabelecia um plano de trabalho para esse ano. Ao mesmo tempo, publicou parte dos documentos aprovados no congresso, dos quais se destaca o capitulo referente à "Propaganda Armada". Depois de considerar o novo presidente eleito - General Emílio Garrastazu Médici - como "um militar totalmente inexpressivo" e o novo governo como o "politicamente mais fraco desde 1964", a VPR apontava o seu inimigo: a burguesia.
Privilegiando a luta armada como a única forma de tomada do poder, a VPR estabelecia duas tarefas fundamentais para esse ano: a propaganda armada, as ações armadas e a guerrilha rural.
Para a organização, a agitação e a propaganda não deveriam, como até agora acontecia, simplesmente inocular nas massas a necessidade de fazer a revolução, mas mostrar- lhes um quadro revolucionário pronto, para que nele ingressassem, inicialmente, a reboque da vanguarda.
Dentre as ações de propaganda armada, a VPR as caracterizava como sendo de três tipos: as "de repercussão nacional, de grande vulto" ; as "de repercussão local"; e as "de repercussão. interna, dentro da vanguarda, como troca de prisioneiros, justiçamentos de torturadores, etc". Nestas últimas ações, a VPR enquadrava os justiçamentos dos "dedos-duro" e dos "traidores ", condenados por um "tribunal revolucionário", que poderiam ou não ser divulgados pela organização. As discussões sobre a propaganda armada durariam todo esse ano e seriam intensificadas, a partir do sequestro do embaixador suiço, planejado para dezembro.
Sobre a guerrilha rural a segunda tarefa fundamental desse ano, a VPR afirmava que ela seria desencadeada através de 3 fases:
- na primeira, a preparação dos quadros em áreas de treinamento . A VPR já havia feito um treinamento , de outubro a dezembro de 1969, e, naquele momento, janeiro de 1970, iniciava a implantação de uma nova área de treinamento, na região de registro.
- na segunda, a implantação de área táticas (AT), onde seriam desencadeadas guerrilhas irregulares; e
- na terceira, a Coluna Móvel Guerrilheira, de fundo, estratégico,e que seria o embrião de um Exército Popular .
. Em carta "Aos Comandantes - de Unidades de Combate", datada de 7 de janeiro, Carlos Lamarca afirrnava que "a palavra de ordem é aguçar a luta, em todos os níveis, em todos os lugares".
Para realizar todo esse ambicioso plano, a VPR precisava ter uma organização dinâmica que lhe permitisse, com mais facilidade, acionar suas bases sem os entraves de uma estrutura complexa, com excessivos comandos interrnediários.
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Na época que militava na luta armada era conhecido como Ladislas Dowbor - Jamil |
Na Guanabara havia duas UC. Uma, denominada de "João Lucas Alves" - UC/JLA -, era comandada por José Ronaldo Tavares de Lira e Silva, ex-Sargento do Exército, e possuía duas bases
A primeira base era coordenada por Darcy Rodrigues, ex-sargento do Exército, e integrada por Gerson Theodoro de Oliveira , sua companheira Tereza ângelo, Maurício Guilherme da Silveira e Flávio Roberto de Souza; e a segunda, coordenada por José Maurício Gradel e integrada por Sonia Eliane Lafoz, Jesus Paredes Souto, Adair Gonçalves Reis e Cristóvão da Silva Ribeiro.
A UC/JLA, como as demais, possuía uma vida própria, com um Setor de Imprensa, um de Documentação, um de Inteligência, e uma Base Médica, onde se destacava Almir Dutton Ferreira. Os responsáveis eram os seguintes militantes:
Documentação - Melcides Porcino da Costa e sua companheira Ieda dos Reis Chaves
Inteligência - Celso Lungaretti, Maria Barreto Leite Valdez, Richard Domingues Dulley e sua esposa Ana Maria Aparecida Peccinini Dulley
Base Médica - Almir Dutton Ferreira.
A outra UC estava em gestação e fora denominada "Severino Viana Colou". Era comandada por Herbert Eustáquio de Carvalho, um ex-estudantede Medicina, vindo do COLINA de
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Darcy Rodrigues |
Essa UC era encarregada de executar pequenas açoes. Integrada, fundamentalmente, por militantes oriundos do Comando Secundarista (COSEC), possuía duas bases :
A primeira, coordenada por Alex Polari de Alverga, era integrada por sua companheira Lúcia Velloso Maurício,´Paulo Cesar de Amorim Chagas e Vera Lúcia Thimóteo;
a segunda, coordenada por Alfredo Hélio Sirkis, constituía-se de Júlio Cesar Covello Neto e Marco Antonio Esteves da Rocha. Como homem de confiança de Juarez e encarregado de contatos com outras organizações, havia Wellington Moreira Diniz.
Em São Paulo havia apenas a UC coordenada por José Raimundo da Costa , que possuia cerca de 20 militantes , e que, em seguida passaria para a cordenação de Ladislas Dowbor.No Rio Grande do Sul, havia a UC "Manoel Raimundo Soares" (UC/MRS), dirigida por Félix Silveira Rosa Neto. Integrada pela companheira de Félix, Eliana Lorentz Chaves, Fernando Damatta Pimentel, Irgeu João Menegon, Luiz Carlos Dametto, José Clayton da Silva Vanini e Isko Germer, ex-tenente da PM gaúcha. Essa UC havia sido reforçada, em dezembro de 1969, com a entrada de mais de uma dezena de militantes oriundos do POC.
Além da área urbana, a VPR passava, nesse início de ano, a dar maior atenção ao trabalho de campo![]() |
Alfredo Hélio Sirkis PT/RJ |
A mando da organização Antonio Nogueira da Silva Filho comprara uma fazenda no. interior goiano, mas "desbundou" (ou seja, desistiu da subversão) e pediu para sair. Julgado por um Tribunal Revolucionário, por pouco não foi justiçado, sendo expulso pela contagem de 2 x I, com o voto isolado a favor do fuzilamento. O tribunal, constituído por Celso Lungaretti, Ladislas Dowbor e Carlos Alberto Soares de Freitas, expulsou -o em 24 de setembro de 1969. Com medo, Antonio Nogueira da Silva Filho , ainda em 1969, fugiu para Milão , na Itália.
Em termos de "frente"- ações praticadas em conjunto com outras organizações-, a VPR participava com a ALN, a REDE, o POC e o MRT. A VPR fazia, tambèm, contatos com o grupo denominado de Frente de.Libertação Nacional (FLN), liderado pelo ex--major do Exército Joaquim Pires Cerveira. Juntas VPR e FLN realizaram o planejamento de diversas ações, dentre os quais o do seqüestro do embaixador alemão, na Guanabara.
Nesse inicio de 1970, os órgãos de segurança empenhavam - se em descobrir as infiltrações da VPR no Exército, através das declarações do ex-Cabo José Mariane Perreira Alves. Preso ,o Capitão Altair Luchesi Campos negou peremptoriamente as suas ligacões com a VPR e com Lamarca. Ao ser acareado com o Cabo esse lhe disse:
" Vamos ser homens, capitão! Eu caí, estou falando a verdade e, se faço neste momento esta declaração, não é por vingança. Não tenho raiva de nenhum oficial que tenha me dado punição quando soldado. O senhor realmente esteve no aparelho do Lamarca".
Então , em prantos, o Capitão Luchesi confessou suas ligações com a organização.
No exterior, a VPR iniciava a montagem·de uma estrutura em
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Fernado Damatta Pimentel - durante a luta armada |
Os ex-integrantes do MNR recrutados foram : José Maria Ferreira de Araújo, Evaldo Luiz Ferreira de Souza, Edson Neves Quaresma e José Anselmo dos Santos , além de Aluizio Palhano Pedreira Ferreira, bancário, ex-vice presidente da CGT e ex-presidente da OLAS -organização Latino-americana de Solidariedade..
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Fernando Pimentel hoje , ex-pre- |
Na manhã de 27 de fevereiro, um acidente de carro na estrada das Lágrimas, em São João Clímaco/SP, colocava na mão da polícia Chizuo Ozava ("Mário Japa"), que sabia onde era a área de treinamento. Perguntado sobre o assunto, "Mário Japa" disse que estava localizada em Goiás. Mais uma vez, os órgãos de segurança foram desviados em suas buscas, naturalmente em decorrência do erro inicial. Entretanto, a simples prisão de "Mário Japa" preocupou a VPR e, particularmente Lamarca, internado nas matas de Jacupiranga.
Era preciso, urgentemente, fazer um seqüestro para libertá-lo, ação concretizada em 11 de março, quando foi sequestrado o cónsul japonês em São Paulo.
No Rio Grande do Sul, a fim de desviar de São Paulo a atencão dos Órgãos de Segurança, a UC/MRS iniciava as ações armadas.
No dia 2 de março, assaltou um Volks do Banco Brasul, que transportava dinheiro da Companhia Ultragás, levando 65.000 mil cruzeiros.
A relativa inação da VPR nesses dois primeiros meses do ano, seus planejamentos, sua preparação e particularmente o sigilo com que procurava cercar suas ações permitiam prenunciar grandes atividades da organização nos meses seguintes.
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Alex Polari Alverga e o Santo - Daime |
Transcrito do Projeto Orvil
Outros nomes podem ser encontrados em todas as matérias da série Projeto Orvil e Memórias Reveladas. Relação proposta nessa matéria, pessoas fáceis de serem localizadas:
Celso Lungaretti - blogueiro
Alfredo Hélio Sirkis - Deputado pelo RJ
Ladislas Dowbor.