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Na esquerda, apoiando Jango, estavam organizações como a União Nacional dos Estudantes (UNE), o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), os partidos Comunistas, as Ligas Camponesas e outras.
O PCB era o núcleo dominante das decisões e seguia a orientação ditada pelo Comitê Central. Aspirava alcançar o poder em curto prazo, pelos processos que lhe pareciam menos arriscados e mais vantajosos
Existiam, ainda, outras organizações, como o Partido Operário Revolucionário Trotsquista (PORT)), a Ação Popular (AP), a Política Operária (POLOP) e os Grupos dos Onze, de Leonel Brizola, que pretendiam atingir o poder pelas armas.
Agitações no campo, sindicatos e nos quartéis
Era clara a ingerência externa para transformar o País em uma república comunista. O Movimento de Cultura Popular, criado em Recife, com o apoio da UNE, do Ministério da Educação e com auxílio financeiro externo, se desenvolvia em todo o País. Sob o disfarce de combate ao analfabetismo, realizava abertamente a doutrinação comunista. Vindos de Moscou, substanciais fundos fortaleciam a UNE, que publicava um jornal semanal marxista e panfletos inflamados e distribuía material de leitura, “para combater o analfabetismo”. Esse material incluía o manual de guerrilhas de Che Guevara, traduzido por comunistas brasileiros. Líderes da UNE fomentavam greves estudantis e distúrbios de rua.
De 28 a 30 de março de 1963, o Partido Comunista Brasileiro promoveu o Congresso Continental de Solidariedade a Cuba, reunindo, em Niterói, na sede do Sindicato dos Operários Navais, delegações de várias nacionalidades. Luís Carlos Prestes, em sua abertura, disse que gostaria que o Brasil fosse a primeira nação sul-americana a seguir o exemplo da pátria de Fidel Castro.
A revolução cubana servia de modelo para organizações revolucionárias comunistas, atuantes na época, que concordavam com a luta armada para a conquista do poder.
O ano de 1963 foi pródigo de conflitos na área rural. A violência era pregada abertamente. Grupos armados, em vários pontos do País, invadiam propriedades, com a conivência de autoridades e de membros da Igreja Católica. O movimento crescia com os discursos inflamados de Miguel Arraes, Pelópidas Silveira e outros líderes de esquerda.
Mais de 270 sindicatos rurais eram reconhecidos pelo Ministério do Trabalho, a maioria infiltrada por líderes comunistas. Enquanto fazendeiros e sindicalistas se armavam, os conflitos se multiplicavam. Dezenas de mortos e feridos era o saldo desses confrontos.
Segundo Prestes, o PCB já podia se considerar no governo. Cargos importantes nos governos federais e estaduais e no Judiciário estavam em mãos de comunistas e seus aliados.
A situação nessa época era de incerteza. Existia nos quartéis um grande número de militantes comunistas infiltrados, principalmente no meio dos sargentos, que vinham sendo doutrinados havia muito tempo. A mobilização de alguns graduados, ligados ao PCB, visava a desestabilizar a disciplina e a hierarquia. Incitamento à indisciplina
O ambiente era tenso. Os infiltrados “trabalhavam” os recrutas de suas unidades. Dentro dos quartéis doutrinavam com relativa liberdade, acobertados por reivindicações de classe. Desenvolvia-se a campanha comunista.
A respeito desse assunto, o ex-sargento Pedro Lobo de Oliveira, expulso em 1964, deu o depoimento abaixo para o livro a Esquerda Armada no Brasil , de Antonio Caso - Moraes Editores - Prêmio Testemunho /1973 da Casa de las Américas.
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Pedro Lobo de Oliveira Entre outros crimes , um dos carrascos do Capitão Chandler |
“Até 1964, não havia problema de clandestinidade nem nada disso. Dentro dos quartéis trabalhávamos com relativa liberdade e fazíamos recrutamento político abertamente. Eu, por exemplo, algumas vezes chegava a reunir 50 ou 60 soldados numa sala do quartel e discutia com eles o problema da revolução (...)
Certa vez coloquei um soldado de guarda à porta da sala do quartel, para vigiar a chegada de algum oficial, e falei da União Soviética a numerosos cabos e soldados. Falei da grande Revolução de Outubro de 1917 ...”
O comando geral da rebelião era liderado pelo sargento da Força Aérea Brasileira Antônio Prestes de Paula. Os revoltosos ocuparam, na capital federal, o Departamento Federal de Segurança Pública, a Estação Central de Radiopatrulha, o Ministério da Marinha e o Departamento de Telefones Urbanos e Interurbanos e, a seguir, prenderam alguns oficiais, levando-os para a Base Aérea de Brasília.
A reação à rebelião logo se fez sentir. Os blindados do Exército ocuparam pontos estratégicos de Brasília e dirigiram-se para o Ministério da Marinha, onde os rebeldes se entregaram. Alguns elementos saíram feridos. Houve dois mortos, o soldado fuzileiro Divino Dias dos Anjos, rebelde, e o motorista civil Francisco Moraes.
O jornal O Globo, do Rio de Janeiro, na edição do dia 19 de setembro, publicou parte do plano dos sargentos, apreendido pelas autoridades militares.
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Revolta dos marinheiros - no centro o almirante Cândido Aragão |
Tudo levava a crer que estava próxima, finalmente, a instalação da “República Sindicalista”. Pelo menos assim pensavam João Goulart e as organizações que o apoiavam.
Em 10 de janeiro de 1964, o secretário-geral do PCB, Luís Carlos Prestes, foi a Moscou informar a Nikita Kruschev o andamento dos planos acordados em 1961
Informou a Kruchev que “os comunistas brasileiros estavam conduzindo os setores estratégicos do governo federal e preparavam-se para tomar as rédeas”.
Prestes pintou um quadro propício ao desencadeamento da revolução, subestimando a reação e superestimando os meios disponíveis:
- poderoso movimento de massas, mantido pelo Partido Comunista e pelo poder central;
- um Exército dominado por forte movimento democrático e nacionalista;
- oficiais nacionalistas e comunistas dispostos a garantir, pela força, um governo nacionalista e antiimperialista; e
- luta pelas reformas de base.
"No Brasil o potencial revolucionário é enorme. Se pega fogo nessa fogueira, ninguém poderá apagá-la” (disse Mikhail Suslov, ideólogo do Partido Comunista da União Soviética).
A exemplo de 1935, a revolução começaria pelos quartéis. O dispositivo militar seria o grande trunfo.
Os comunistas brasileiros nunca estiveram tão fortes quanto em 1964. Só que, como acontecera em 1935, Prestes transmitira a Moscou uma impressão excessivamente otimista com relação ao apoio militar e ao apoio do povo.
Enquanto isso, Fidel Castro, sob os olhos complacentes de Moscou, adiantou recursos a Leonel Brizola para a insurreição político-militar.
Em 13 de março de 1964, foi realizado um comício defronte à Central do Brasil, no Rio de Janeiro, patrocinado pelo Partido Comunista Brasileiro. Naquela ocasião, o presidente anunciou um elenco de mensagens radicais a serem enviadas ao Congresso. Em torno do palanque, guardado por soldados do Exército, os participantes trazidos em trens gratuitos e ônibus especiais, aplaudia, com bandeiras vermelhas e cartazes que ridicularizavam os “gorilas” do Exército.
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