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Ingrid no cativeiro |
A promessa da viúva de levar a seu túmulo as flores do mal - literalmente - exprime tudo o que pode separar a decência humana da criminalidade hedionda dos terroristas que, embora na defensiva hoje em dia, continuam na sua faina assassina que atormenta o povo colombiano. Para libertar outros reféns, as Farc ainda se dão ao escárnio de exigir, além da soltura de 500 guerrilheiros, que o presidente Álvaro Uribe decrete a desmilitarização, por 45 dias, das áreas onde se situam os municípios de Pradera e Florida e onde se daria o escambo. Naturalmente, tratando-se de uma região próxima de Cali, a terceira maior cidade do país, seria uma temeridade o governo de Bogotá aceitar a imposição dos bandidos. Blefando ou não, as Farc anunciaram o fim abrupto das “liberações unilaterais” iniciadas em janeiro com a entrega de uma ex-senadora e de uma auxiliar de sua mais conhecida vítima, Ingrid Betancourt.
Seqüestrada em fevereiro de 2002, quando candidata à presidência da Colômbia, a então senadora, agora a única mulher refém dos facínoras, tem sido especialmente maltratada por eles. Um dos quatro libertados anteontem, o também ex-senador Luis Eladio Pérez - que contou em detalhes revoltantes as agruras a que eram todos submetidos -, descreveu Ingrid, com quem esteve no começo do mês, como “fisicamente esgotada” e correndo risco de vida. Pérez relatou que ela é mantida “em condições infra-humanas”. Em Caracas, para onde os ex-cativos foram finalmente conduzidos, no papel de coadjuvantes involuntários do show do bom amigo das Farc, Hugo Chávez, Gloria Polanco reiterou que o estado de Ingrid é desesperador. Nem assim, o caudilho se dispôs a demandar a sua soltura.
Numa apoteose de cinismo, dirigiu-se diretamente ao chefão da narcoguerrilha, Manuel Marulanda, a quem pediu que transferisse a prisioneira para “um comando” mais próximo dele, “enquanto continuamos abrindo o caminho para a sua liberação definitiva” - como se os padecimentos a ela infligidos não tivessem sido determinados pelo mesmo Marulanda, qualquer que fosse o pedaço de inferno que fosse obrigada a habitar. Chávez ainda se gabou de estar fazendo “tudo o que pudermos para liberar até o último dos seqüestrados” - como se as Farc estivessem propensas, apenas para enaltecer perante o mundo a figura do caudilho aliado, a renunciar ao seu poder de barganha. O que a quadrilha do narcotráfico pretende é ser reconhecida como força beligerante legítima.
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